Como ser feliz na escola
Publicado em : 01/08/2017
Silvia H. Koller & Michele Poletto
Como ser feliz na escola? Esta é uma pergunta de fácil resposta. Qualquer um de nós pode imaginar e descrever uma escola feliz. Ela nos levará, invariavelmente, a um contexto ecológico com pessoas saudáveis, que são bem-recebidas e valorizadas, participam de atividades interessantes e planejadas em um ambiente acolhedor, produtivo e bem-cuidado. A escola feliz é um lugar para onde sempre queremos ir, onde queremos estar, onde nos sentimos bem, aprendemos, encontramos amigos e com quem podemos contar. Construir e garantir um contexto desse tipo tem sido uma busca incessante de profissionais, famílias, adolescentes e crianças. Portanto, o interesse em promover a felicidade e a resiliência de pessoas no contexto escolar vem crescendo.
O que é ser feliz, resiliente e saudável?
A psicologia positiva tem trazido definições novas para essa área da ciência, que trata principalmente da preservação e garantia de aspectos saudáveis na vida das pessoas. Resiliência, no entanto, embora seja um constructo bastante lembrado, tem sido difícil de definir e, muitas vezes, definido incorretamente. Trata-se de um processo pelo qual as pessoas percorrem trajetórias de desenvolvimento de superação para lidar com eventos estressores. Para isso, a pessoa conta com o apoio de sua rede social e afetiva, com suas características pessoais (inteligência, autoestima, autoeficácia) e com a
percepção de que seu ambiente de desenvolvimento é um espaço coeso e propício para o seu pleno desenvolvimento de capacidades.
Em 1948, a Organização Mundial de Saúde propôs a definição de saúde como “um estado de completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença ou enfermidade” (World Health Organization, 1987). Essa definição representa uma visão mais holística de saúde, incorporando aspectos psicológicos e sociais. A avaliação do nível de funcionamento das pessoas e de adaptação ao ambiente trouxe a ideia de qualidade de vida e felicidade alcançadas por meio de sucesso, produtividade e criatividade, que gerariam bem-estar.
Felicidade e bem-estar na escola
A satisfação escolar avalia a importância dessa comunidade e dos relacionamentos interpessoais vivenciados nesse contexto. A importância do cuidado no ambiente escolar e da complexidade dos fatores tanto ambientais quanto pessoais que contribuem para que os alunos tenham satisfação com a escola, experimentem competências, sejam valorizados pelos professores, apresentem capacidade para tomar decisões, relacionar- se e se divertir são associados ao bem-estar na escola (Hernangómez, Vázquez e Hervás, 2009).
Existe uma crença popular que pressupõe que as crianças são felizes e, além disso, que são mais felizes que os adultos. Contudo, a investigação do bem-estar desfaz essa crença, considerando que crianças e adolescentes encontram-se em níveis de bem-estar similares aos encontrados em adultos e que pode haver variações desse nível ao longo da vida. Na adolescência, observam-se sutis diferenças em função da idade e do sexo, com aumento na expressão das emoções negativas, diminuição da expressão das emoções positivas e leve diminuição da satisfação vital entre os 12 e os 16 anos, sobretudo para as adolescentes (Casas et al., 2007). O que deixa alguém feliz aos 10 anos não pode ser o mesmo que o deixa feliz aos 40 ou aos 80 anos. Diversos fatores influenciam de maneira similar o nível de bem-estar em todas as idades, como, por exemplo, a condição socioeconômica e o acesso a bens de consumo.
O contexto bioecológico escolar como fator de proteção ao desenvolvimento
A abordagem bioecológica do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 2011) chamou a atenção para a importância dos acontecimentos na vida de uma pessoa e do momento em que eles ocorrem. Tomando a participação da comunidade na vida de crianças ou adolescentes, a escola é um contexto ecológico por excelência, vivido em um tempo ótimo do desenvolvimento, sendo capaz de mediar, acolher e empoderar seus protagonistas para lidar com adversidades e preservar suas emoções positivas.
A escola pode tanto fortalecer quanto vulnerabilizar as crianças e os adolescentes. Por exemplo, vivências de bullying e outras formas de violência, situações de conflito entre alunos e professores, falta de interesse pelos conteúdos e pelo modo como têm sido trabalhados nos contextos escolares podem levar ao desinteresse ou ao abandono escolar. Entrevistando crianças em situação de rua, Cerqueira-Santos (2004) identificou o desejo delas de participar ativamente desse espaço e de pertencer a ele, associado a uma visão estereotipada da escola como se fosse algum lugar em que não poderiam estar. A escola apresentava-se para elas como um espaço onde se aprende. Embora seja descrita como um lugar com boa estrutura para brincar, devido às suas instalações, foi vista como um espaço que impunha limites, pois as crianças que experimentavam a rua como lugar de socialização não percebiam que podiam brincar de forma espontânea e livre.
O fortalecimento do vínculo da criança e do adolescente com a escola parece fundamental, devido às possibilidades de intervenção e benefícios que um ambiente escolar seguro, acolhedor, afetivo e estimulante pode proporcionar. O contexto escolar também precisa favorecer o acolhimento da diversidade, oportunizar espaços de diálogo com seus estudantes, mediados por suas necessidades. Sendo assim, poderá resgatar suas importantes funções junto à rede de ensino.
Bibliografia
Silvia H. Koller é professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
silvia.koller@pq.cnpq.br
Michele Poletto é professora do Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios.
michelepolettopsi@gmail.com
Para entrevista na íntegra visite o site: http://loja.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/6091/como-ser-feliz-na-escola.aspx